Com novos bares, cervejarias e eventos cada vez maiores, parece que o mercado cervejeiro vai muito bem. Mas o público, que também vem crescendo, está acompanhando esse desenvolvimento?

Infelizmente, nem todo mundo bebe para se divertir.

Copo Americano

A resposta pode parecer óbvia, já que vemos cada vez mais pessoas interessadas em conhecer cerveja e falar sobre o assunto. Mas sejamos francos: estamos falando de álcool, um produto cujo abuso pode criar dependência entre outros problemas. Mesmo assim, vira e mexe vejo gente que esquece disso.

Isso ficou muito claro depois de um incidente que aconteceu no último evento em que estive, a Oktoberfest da Paulaner. Nada contra o evento, pelo contrário. Fui a convite da marca e a cada ano, a Paulaner vem fazendo um ótimo trabalho, trazendo a cultura alemã para cá. Mas um fato isolado, mas que deve ser discutido, chamou atenção.

Uma amiga teve seu cabelo puxado por um desconhecido nitidamente alterado.

É triste, mas qual mulher nunca passou por esse tipo de problema? O cara bebe, vira Superman e acha que pode tudo. Nesse caso, o sujeito segurou o cabelo da Lívia, do site Etílicos, e não quis largar. Seu marido, ao tentar defendê-la, foi agredido e acabou indo parar no hospital com pontos na cabeça. Poderia ter sido muito mais grave? Claro que sim. Até fatal? Sem dúvida. Então me pergunto, isso é do jogo? Obvio que não.

Todos os dias, tenho o prazer de compartilhar experiências cervejeiras e com outros tipos de bebidas alcoólicas no meu Instagram. Faço isso porque gosto, e se você me conhece, ou me segue nas redes sociais, sabe do meu carinho com esse trabalho. Mas fatos como o que aconteceu com a Líviaque ela relata tudo aqui preocupam cada vez mais, pois esse tipo de agressão é mais comum do que muita gente imagina. E, obviamente, as mais prejudicadas são as mulheres.

Perdi pessoas próximas para o alcoolismo e cresci com um pai que sofria do mesmo mal.

Não é de hoje que observo esse tipo de comportamento. Tive a infelicidade de ver na prática, tudo que o álcool pode fazer com uma família. Brigas, agressões, violência física e psicológica, desemprego, falta de perspectiva, de respeito e de dignidade. Hoje meu pai não bebe mais, mas o preço foi alto pra toda a família.

Eu teria todos os motivos do mundo para nem chegar perto de cerveja.

 

Eduardo Sena

Mas em vez de odiar, preferi entender melhor o lado positivo dessa experiência para dividir com os amigos, novos e antigos, como uma boa conversa de bar. Desde então, leio muito a respeito, e principalmente, busco aprender com pessoas que entendem mais do assunto do que eu. Assim posso dividir sempre algo igualmente positivo, lembrando sempre do consumo moderado, educado, sem exageros.

Receber mensagem de alguém que nem conheço, agradecendo por uma dica e dizendo que mudou seu hábito de beber cerveja, não tem preço.

Tem dado certo, pois realmente é possível beber sem prejudicar os outros. E a cerveja artesanal traz isso na sua essência. Beber menos é realmente beber melhor e quanto mais se entende de cerveja, menos se bebe e mais se aprecia. A velha cultura do excesso, de contar as garrafas e beber até cair nunca esteve tão fora de moda.

Mas se a ideia é conhecer, de que vale beber todas e não se lembrar de nenhuma?

Infelizmente, pra muita gente essa cultura ainda prevalece. É claro que não se vai a um evento cervejeiro pra tomar água. Não sejamos hipócritas. Mas vale a pena beber até cair? E mesmo que esse seja seu objetivo – o que é uma pena -, isso te dá o direito de estragar a festa dos outros? Eu tenho certeza que não.

E se você é homem e chegou até esse ponto do post, pergunto mais: levaria sua mãe a um evento em que outros homens poderiam assediá-la ou desrespeitá-la? Se sentiria à vontade de levar sua esposa ou irmã a um bar, sabendo que alguém poderia mexer com ela, puxar seus cabelos, passar a mão, ofender ou até fazer algo pior? Creio que não.

Temos que combater esse tipo de comportamento e usar nossa influência.

Sim, todos nós somos influenciadores e temos que usar isso para o bem, para compartilhar coisas boas, mas principalmente para ajudar a educar. É preciso desestimular o consumo excessivo e burro, que muita gente acha o máximo, mas que sabemos que é triste e degradante. E principalmente, devemos reprimir o bebedor médio e machista, que acha mulher no bar é domínio público e pode chegar falando e fazendo o que quer. Tá errado e não tem papo. 

Estamos cada vez mais na rota de grandes eventos. O problema não são eles.

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Oktoberfest é uma festa centenária, acontece há décadas em Blumenau e chegou por aqui recentemente. É uma honra para nós, ver uma Paulaner compartilhar um pouco dessa cultura conosco.

A Heineken, patrocinadora oficial da Champions League, faz todo ano um super evento na final deste que é o maior campeonato de clubes do mundo. Fora as experiências que tomam a cidade e propõem o consumo consciente aliado à música, esporte e valoriza a cultura local, como o Heineken Up on The Roof e Shape Your City.

A Budweiser, outra super marca, trouxe pra cá seu Budweiser Basement com grande sucesso. Este ano, além do evento tradicional ainda trouxe uma edição especial, que transmitiu a Copa do Mundo em 10 capitais do país.

Corona, Hoegaarden, Colorado, DUM, Cevada Pura, Dama Bier e tantas outras cervejarias, grandes ou pequenas, tem como parte da estratégia fazer eventos cervejeiros ou estar neles.

Eventos como o Cerveja Artesanal São Paulo, IPADay, DUM Day, Mondial de La Bière, Garden Feelings e Slow Brew são uma realidade deliciosa, que proporciona experiências e descobertas para os amantes da cerveja e provam que o mercado está crescendo e se desenvolvendo sim!

Com tanta coisa boa acontecendo, não podemos deixar a falta de respeito estragar o rolê.

Quem se excede desrespeita amigos, famílias e principalmente as mulheres. Vivemos em um outro tempo, avançamos, mas ainda há uma longa batalha pela igualdade. Por isso, precisamos fazer com que mais conquistas venham nesse sentido, pois ganhamos todos.

Hoje, cada vez mais mulheres se destacam nessa e em outras cenas. Vide Kathia Zanatta, à frente do ICB; Bia Amorim fazendo bonito à frente do Mestre Cervejeiro Eisenbahn; Bruna Garcia, do antigo Clubeer; Luiza Tolosa à frente da Cervejaria Dádiva; Lisa Torrano, do Cerveja Artesanal São Paulo; Julia Reis da Sinnatrah; Fernanda Ueno e seu trabalho na Colorado; Katia Pereira, curadora do Slow Brew; Tamires Cirilo da Cervejaria Pratinha e tantas outras mulheres, conhecidas ou não, mas que contribuem para o crescimento da cena todos os dias. Mas o bonde não pode parar.

Beber é sobre curtir os amigos, ter boas conversas, não o contrário.

Eduardo Sena

Se você concorda, diga isso nos comentários e compartilhe esse texto, assim como o respeito e o consumo responsável. Se discorda, entre na conversa também. Isso aqui é democracia. E da próxima vez que for beber, lembre-se que o seu excesso sempre vai estragar a festa de alguém e mesmo sem beber, você não tem o direito de desrespeitar ninguém, principalmente uma mulher. Lugar de mulher é onde ela quiser, e se esse lugar for o seu bar predileto ou um evento gigante, não chegue nela sem ser convidado e beba com moderação que a festa sempre dura mais. Cheers!