Sempre que me perguntaram se eu tava pronto pra ser pai eu respondia enfático: nunca. Hoje sou pai da Olivia, uma criança incrível, apaixonante, divertida e muito sapeca, que prova a cada dia que eu estava certo.

A vida toda eu sempre me dei bem com filhos dos outros, mas sempre que o assunto era comigo eu corria. Fazia isso porque simplesmente nunca passou pela minha cabeça ser pai. “Cuidar de mim já não é fácil, imagine cuidar de alguém”, eu dizia. E não estava errado. Também ouvi que por mais que eu achasse que não tinha jeito pra coisa, quando acontecesse comigo, a conexão ia rolar. E rolou.

Estou escrevendo tarde, de uma noite perto do Dia dos Pais.

Olivia acabou de dormir. Estava cansada porque perdeu uma das sonecas por causa do cocô. Acontece. Isso deixa ela irritada, quem não ficaria? Aí não dorme e quando chega a noite fica impaciente e não quer muito papo.

Mesmo assim, nessa noite ela amenizou pra mim. Deitou no colo, apontou pra cada “personagem” que criamos juntos dentro do quarto, deu com a mãozinha se despedindo deles e pediu arrego. Quando saí do quarto ela nem bateu a tradicional palminha de despedida. Começou a balançar a cabeça e fiquei vendo da babá eletrônica até que ela apagou. Noite rara.

No fundo, acho que sempre tive um pouco de medo de ser pai por achar que podia ser negligente ou ausente. Meus pais sempre trabalharam e desde pequeno a responsa era dividida com a gente. Aos 6 anos, lembro de ir sozinho pro prezinho quando a mulher que olhava eu e meu irmão não vinha. Ninguém acredita, mas minha mãe confirma e eu lembro mesmo. Foi uma infância difícil pra nós como crianças, mas também pros meus pais, que lutavam com pouco estudo e empregos que pagavam pouco pra manter a casa. Acho que sempre fiquei com receio de não poder dar o melhor pra um filho. Mas o que é melhor para uma criança?

Quando Olivia nasceu, o pai adormecido em mim nasceu também.

O melhor dessa experiência é descobrir que por mais que sua vida tenha sido difícil, e famílias são difíceis, uma nova história pode ser escrita sempre, e de forma diferente.

Há muito tempo venho repensando muitas coisas e valores. Um dia, ao assistir The Mask You Live In, um documentário poderoso, que mostra como a ideia do macho dominante afeta psicologicamente crianças, jovens e homens adultos, tive a dimensão do peso da criação que temos e quão nocivo ela é pra nós mesmos, mas principalmente, para as pessoas à nossa volta.

Nosso tempo é um dos bens mais preciosos que podemos dar para uma criança

Com o tempo, percebi que a melhor coisa que eu poderia dar pra Olivia, além de todo o amor do mundo, era estar sempre ao seu lado. Mas vivemos em um mundo onde ninguém tem tempo pra nada. Como fecha essa conta?

Bill Gates, no seu documentário no Netflix deixa isso claro. O homem mais rico do mundo não se atrasa porque o tempo é a única coisa que ele não pode comprar, e o tempo dele é igual ao de todo mundo.

Cuidei da Olivia desde o primeiro dia e não abro mão disso. No seu primeiro mês de vida pedi férias pra estar com ela em casa. É a fase mais difícil, já que vocês não sabem nada, é tudo novo, mas principalmente, é a oportunidade do pai começar a criar sua conexão com o bebê, afinal, a que ele tem com a mãe já está pronta e só melhora.

Ser pai não é fácil, não se engane. Mas vale cada sacrifício.

Foi a experiência mais insana e também a mais transformadora. E acho que todo mundo precisa passar por ela, e não é só sobre ajudar a mulher. É sobre entender que a responsabilidade é sua também e que abrir mão dela não é uma possibilidade. Ou pelo menos, não deveria.

Voltei a trabalhar um mês depois do nascimento da Oli, mas tive o prazer de me conectar com ela nas pequenas coisas. O banho, a troca de fraldas, ninar e estar com ela sempre que a mãe precisa descansar.

Olivia foi um presente que trouxe vários outros. E nos confortar durante a quarentena na pandemia foi um deles. Cuidar dela nos permitiu entender e reforçar a importância de nos proteger e, principalmente, proteger os outros. E mesmo estando ambos desempregados no meio da maior pandemia que o mundo já viu, Olivia nos manteve no eixo sem desanimar e com a cabeça boa pra seguir criando, produzindo e tendo ideias pra não cair na bad, mesmo com o mundo desmoronando.

A paternidade é uma longa jornada, e tá só começando

Olivia acaba de completar um ano de vida, aponta pra tudo, faz cara de impressionada a maioria das vezes e balbucia barulhinhos que só ela sabe o que quer dizer, mas a gente deduz e tem acertado a maioria das vezes. Sintonia, conexão genuína? Quem é pai e mãe vai entender.. Enquanto to escrevendo esse texto, ela ainda não andou. Mas engatinha como uma “Ferrari bebê” e anda se apoiando no sofá, atraída pela fila de livros que a gente deixa na beira pra ela ir tateando, apontando, descobrindo e lendo, ao modo dela. Até aqui foi uma jornada e tanto. Coisa de tirar o fôlego, já que o sono, as manhãs na cama até depois das 9h e a vida como se conhecia até então, Olivia tirou da gente. E ainda bem. Porque a vida que ela nos trouxe é cheia de desafios, mas é impressionante como cada sorriso, cada conquista, por menor que possa parecer, supera tudo.

Olivia é a maior criação da minha vida. Também a mais apaixonante, complexa e desafiadora, já que vivemos em um mundo feito por homens, criado para eles e que precisa ser desconstruído. Antes dela chegar eu nunca pensei que teria uma filha ou filho. Hoje, é clichê dizer isso, mas não da pra imaginar a vida sem ela, que me deu o maior presente que um homem pode ter: a chance de ser pai. E a chance de aprender com uma menina.

Às vésperas do meu segundo Dia dos Pais, se me perguntar se estou preparado a resposta ainda é enfática: ainda não. Acho que ninguém está.

Ainda bem, porque o melhor dessa jornada é justamente o fato dela ser completamente imprevisível. Um brinde à isso, feliz Dia dos Pais.